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Lar do Comércio “assustou” pela incúria face ao Covid19

  • Foto do escritor: Jornal de Matosinhos
    Jornal de Matosinhos
  • 22 de abr. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 1 de mai. de 2020

Morreram seis idosos, há 13 infectados, 79 considerados positivos, 99 negativos e quatro cujos testes foram inconclusivos


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A situação do Lar de Comércio é muito preocupante, pois os casos de infecção por Covid19 nesse Lar de Terceira Idade de Leça do Balio são demasiados. E durante muito tempo a direcção da instituição praticamente “escondeu” a realidade que se vivia no interior, só alertando na semana passada a Câmara Municipal de Matosinhos e a ARS Norte para o drama que lá se vivia. É que no Lar do Comércio, só após uma semana a dizer que cumpria todas as regras de segurança e segregação dos infectados, separando-os dos que não tinham sintomas, e depois de vistorias da Câmara mostrarem o contrário do que a Direcção dizia, o Lar situado em Leça do Balio, mas quase na fronteira com a Maia, solicitou à Autoridade de Saúde local a necessária ajuda, no passado sábado. E tudo aconteceu a partir do passado domingo, com Bombeiros do concelho a entrarem nas instalações devidamente equipados e preparados para “meter mãos à obra”, tendo verificado que havia, pelo menos 85 infectados. Entretanto no Lar já tinham falecido seis pessoas. O alerta foi dado no final da tarde de sábado, pela direcção do Lar do Comércio, que “pediu ajuda à Unidade de Saúde Pública para mobilizar utentes dentro da instituição”, segundo informações de José Pedro Rodrigues, vereador da Protecção Civil da Câmara de Matosinhos, para assim se conseguir fazer a separação entre doentes com Covid-19 e utentes saudáveis. E o próprio José Pedro Rodrigues, a meio da tarde de domingo, entrou nas instalações do Lar juntamente com Bombeiros das quatro corporações do Concelho e 25 operacionais para ajudar nas operações. As quatro Corporações são as de Leça do Balio, S. Mamede de Infesta, Leixões e Matosinhos-Leça. E o vereador, em conversa com jornalistas, salientou que observou no interior um “quadro de bastante gravidade”, havendo no domingo pelo menos 60 utentes e 25 trabalhadores infectados com Covid19. Segundo José Pedro Rodrigues, o pedido de ajuda pela direcção do lar surgiu muito tarde, “é evidente que sim”, respondeu aos jornalistas à porta da instituição, onde também se juntaram familiares de muitos dos utentes do Lar, desesperados por notícias sobre o estado de saúde dos seus pais e avós internados no Lar do Comércio. Havia, inclusive, quem afirmasse que estava disposto a meter uma queixa-crime contra a Direcção do Lar, face à maneira como se estava a comportar de sonegação de informações aos familiares dos utentes. Entretanto José Pedro Rodrigues afiançou que, por enquanto, nenhum utente será retirado do lar, explicando que estes serão agora organizados em função do seu estado de saúde, uma vez que “vão ser colocados em espaços distintos, com distâncias de segurança em função das determinações da unidade de saúde pública”. Em declarações à Lusa, José Pedro Rodrigues afirmou que a intervenção no domingo, iniciada cerca das 16 horas, se deveu à necessidade de dar resposta a um pedido de auxílio da Direcção da instituição, e que por isso nesse dia “a palavra-chave, neste momento é de cooperação, que foi a que o município sempre quis nesta matéria. O pedido chegou no sábado e já estamos hoje, domingo, no terreno a fazer tudo o que é possível”. Entretanto soube-se, mais tarde, que a assessora de comunicação do Lar do Comércio, Isabel Damião Chumbo, apresentou a sua demissão, uma “decisão irreversível”, alegando não ter sabido atempadamente da situação, a não ser pela Comunicação Social, e que “houve clara omissão, grave, de factos e números de infectados e mortes pela Direcção da Instituição” e que essas acções da direcção, a levaram, enquanto responsável pela comunicação do Lar, a induzir “em erros grosseiros a Comunicação Social”. Já no início desta semana, o Lar do Comércio passou a ter duas áreas de Covid positivo a funcionar, tendo um vogal da Direcção, Emanuel Sousa, informado que "se o número de testes que ainda não chegaram forem positivos", a instituição ficará "absolutamente incapaz de prestar um serviço de qualidade aos utentes". Admitindo, no entanto que pode ter havido, durante as últimas semanas, alguma "ineficácia", mas negou ter havido "negligência" e garantindo que, agora, "tudo está a ser feito" para evitar consequências mais drásticas, Emanuel Sousa, uma vez que, tendo em conta "as infraestruturas e recursos" do Lar do Comércio, se houver um grande aumento do número de casos positivos, "poderá haver um problema". Esperançoso, afirmava que "queremos acreditar que não vai acontecer porque não queremos tirar as pessoas daqui. Mas, em último caso, não teremos condições de criar todos os circuitos". Referiu, ainda, que o Lar do Comércio tem, actualmente, a “equipa quase reduzida a 50%", lamentando, ainda, a comunicação com os familiares dos utentes, assegurando, no entanto, que "não estamos a responder com a rapidez que era desejada, mas a verdade é que na maioria das situações, cerca de 80%, estamos a dar resposta. Percebemos a angústia de quem quer saber como está o seu ente querido, mas pedimos um bocadinho de compreensão". Os dados mais recentes, publicados no Jornal de Notícias de terça-feira, indicam que segundo os resultados dos testes aos utentes e funcionários, ficou a saber-se que há 79 idosos positivos com Covid19, 99 negativos, quatro cujos testes foram inconclusivos e terão de ser repetidos, e 13 infectados. Entretanto, para evitar uma ruptura no serviço no Lar de Comércio, a Segurança Social reforçou o número de funcionários da instituição, com 17 novos trabalhadores, oito dos quais enfermeiros. Mas, segundo o vogal da Direcção, esse novos funcionários “só poderão começar a trabalhar quando fizerem o teste”. Fazendo um balanço com o Jornal de Matosinhos, a Câmara Municipal, através da sua assessora para a Comunicação Social, Ana Caridade, informou, na tarde de terça-feira, que “a Câmara Municipal de Matosinhos tem apoiado as instituições com valência de Estruturas Residencial para Idosos desde o primeiro momento, nomeadamente através das vistorias que, juntamente com a Unidade de Saúde Pública e a Segurança Social, fez a todas as IPSS. Essas vistorias serviram para ajustar os planos de contingência e garantir que as normas de segurança e higiene eram as adequadas para evitar contágios e prevenir a propagação do vírus”. Neste caso concreto, “a primeira vistoria ao Lar do Comércio foi feita logo no início de Abril e foram detectados procedimentos errados, nomeadamente no que diz respeito à segregação dos utentes. Havendo suspeitas de que, apesar das recomendações do relatório entregue à instituição, esses procedimentos se manteriam, a equipa multidisciplinar voltou à instituição onde reiterou as recomendações já feitas. Mediante o cenário, nomeadamente da falta de recursos humanos, a Direcção da instituição solicitou formalmente ajuda à Unidade de Saúde Pública, no sentido de conseguir segregar os doentes dentro da instituição”. Assim, “no passado sábado, 24 elementos das quatro corporações de Bombeiros do concelho, deslocaram-se às instalações do Lar do Comércio para auxiliarem nesse trabalho. Paralelamente, a Segurança Social começou já a dar formação a 17 funcionários que deverão iniciar funções brevemente”. - JMC

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