Combater o vírus do desemprego e empobrecimento
- Jornal de Matosinhos

- 2 de mai. de 2020
- 3 min de leitura
NARCISO MIRANDA
Comendador

Acho que a maioria dos cidadãos já assistiu à homilia televisiva da hora do almoço que vai sendo repetida todos os dias. Há quase dois meses Marta Temido ou António Lacerda e Graça Freitas divulgam as novidades e os números da pandemia. Repetem quantos são os infetados, os suspeitos, os recuperados, os internados e destes quantos estão nos cuidados intensivos e ainda os número de mortos e repetem a frase “que lamentamos”. No início falavam de subidas abruptas para a seguir falarem em acalmia e repetiam vezes sem fim as curvas até chegarem ao planalto que um dia nos trará a calma da base da montanha e depois a tranquilidade. Há três semanas insistiram que a máscara não trazia nada em termos de segurança e insistiam que de nada servia usar esta proteção (para os outros). Depois de um programa televisivo insistir no uso da máscara e apontar o sucesso da República Checa (por cá as comparações apenas se fazem com a Espanha e Itália), o discurso mudou e as máscaras passaram a entrar todos os dias nas mensagens dos nossos políticos, nacionais e locais. As conferências de Imprensa não retratam, nem de perto, a dimensão da catástrofe. Há muito mais vidas diminuídas ou destruídas do que aquelas que ali se informam. A verdade é que se é natural que a grande prioridade seja a saúde dos cidadãos e o combate ao vírus também é verdade que não podemos caminhar para a “morte da cura”. As empresas e trabalhadores em lay-off também mereciam um “briefing” diário, com gráficos, números, curvas e outros protagonistas. Siza Vieira e Ana Mendes Godinho deveriam vir também todos os dias informar e atualizar sobre a abrupta subida de empresas e trabalhadores que assistem à agonia das mesmas e dos postos de trabalho (mais de um milhão e a subirem a uma velocidade loucamente perturbadora). Seria também importante que alguém nos venha mostrar a curva dos despedimentos e dos que já perderam os vencimentos e aguardam, com um nó na garganta a evolução. Creio que nestas semanas já ultrapassaram os 70 mil novos pedidos de subsídio de desemprego. Com a brutal quebra nas receitas dos imposto, designadamente, no IRC, IRS e IVA seria bom percebermos como é que Mário Centeno vai resolver pagar as despesas assumidas que se agravarão substancialmente com esta verdadeira correria, às vezes tonta, de tudo e todos comprarem, a torto e a direito, sem regras, sem consultas e com processos sustentadas no princípio “compra já, faz contrato depois e logo se verá como se vai pagar. Nestas conferências de imprensa, que não existem, não encontraríamos a curva a descer, nem o planalto, nem mesmo qualquer protagonista mascarado ou a afirmar que as máscaras nada resolvem. Pois, mas a verdade é que este brifing não existe porque se existisse muito cidadãos perceberiam que este vírus trouxe a doença e a quarentena não só ainda não trouxe a cura como já arrastou muita gente para o , para a miséria e a fome e neste caso a curva está sempre em modo crescente e o planalto muito longe. Tão longe que não se vê sinal no fundo do túnel. Basta verificarmos que em Matosinhos das cerca de 21 mil empresas, temos quase 20 mil com menos de 10 trabalhadores que são 96% do total e que 98% têm até 20 trabalhadores, para facilmente percebermos o que aí vem. Sim, é muito importante proteger os cidadãos de risco, pessoas com mais de 70 anos ou com outras doenças, mas temos de regressar à atividade para não “morrermos da cura”. Com viseiras, máscaras, luvas, desinfetantes e lavando as mãos sistematicamente, abram-se cabeleireiros, lojas, creches, escolas, restaurantes e fábricas, para travarmos a luta contra o vírus do desemprego, do empobrecimento, da miséria e da fome que nos espreita assustadoramente todo aos dias com curvas perigosas e sempre a crescer. Sim, este vírus só será vencido com trabalho, emprego, e, se possível com salários justos e pagos no fim de cada mês.








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